Cirilo de Alexandria
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Cirilo de Alexandria | |
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Patriarca de Alexandria; Confessor; "Pilar da Fé";Doutor da Igreja | |
Nascimento | 375[1] |
Morte | 444 |
Veneração por | Igreja Católica Igreja Ortodoxa Igreja Ortodoxa Oriental Anglicanismo Luteranismo |
Festa litúrgica | 18 de janeiro e 9 de junho na Igreja Ortodoxa e 27 de junho na Igreja Católica e Igreja Luterana |
Atribuições | Vestido como bispo com um felônio e um omofório, frequentemente com a cabeça coberta no estilo dos monges egípcios (por vezes, a cobertura da cabeça apresenta um padrão de polystavrion), é comumente retratado segurando os Evangelhos ou um pergaminho, com a mão direita levantada como quem transmite uma bênção |
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Cirilo de Alexandria (c. 375 ou 378 – 444) foi Patriarca de Alexandria quando a cidade estava no auge de sua influência e poder no Império Romano. Um dos Padres gregos, Cirilo escreveu extensivamente e foi protagonista nas controvérsias cristológicas do final do século IV e do século V. Foi uma figura central no Primeiro Concílio de Éfeso, em 431, que levou à deposição do patriarca Nestório de Constantinopla. Ele é listado entre os Pais e os Doutores da Igreja, e, por sua reputação no mundo cristão, é conhecido como "Pilar da Fé" e "Selo de Todos os Pais". Entretanto, os bispos nestorianos no Segundo Concílio de Éfeso o declararam herético, rotulando-o como um "monstro, nascido e criado para a destruição da Igreja".[2]
Biografia
Cirilo nasceu por volta de 375 ou 378 em uma vila chamada "Didusja"[3] (em copta) e "Teodósio" (em grego),[4] segundo João de Niciu, provavelmente a moderna El-Mahalla El-Kubra ou nas proximidades. Porém autores posteriores, especialmente gregos, apontam Alexandria como sua cidade natal, o que várias fontes modernas corroboram.[1][5] Sua mãe seria natural de Mênfis e passou algum tempo em conventos em Alexandria antes de se casar.[4]
Educação
Em 385 Teófilo assumiu a posição de Patriarca de Alexandria.[6] Ele era tio de Cirilo[nt 1] e cuidou da educação de seu sobrinho em Alexandria. Cirilo recebeu uma educação clássica e teológica,[5] provavelmente estudando gramática entre os doze e quatorze anos de idade (390-392), retórica e humanidades dos quinze aos vinte e, por fim, teologia e estudos bíblicos entre 398 e 402. Provavelmente entrou em contato com os autores que influenciariam sua exegese nesse último período. Entre suas leituras, se destacam Atanásio, Orígenes, Clemente de Alexandria, Basílio de Cesareia,[8] Eusébio de Cesareia, Dídimo, o Cego e até mesmo João Crisóstomo, a quem viria a citar extensivamente apesar do Sínodo do Carvalho, que o depôs. Outra influência relevante foi Isidoro de Pelúsio, importante líder nos círculos monásticos do Egito, dezoito anos mais velho que Cirilo. Embora a relação entre os dois ainda precise ser clarificada, Isidoro escrevia-lhe frequentemente, geralmente em um tom crítico de surpreendente franqueza para um clérigo provincial, embora não houvesse sinal de ressentimento entre os dois. Por isso, cogita-se que Isidoro seria um conselheiro respeitado por Cirilo e talvez tenha sido mentor do futuro patriarca.[9]
Se Cirilo foi a mesma pessoa citada por Isidoro, então ele viveu um tempo como monge.[7] Segundo Gibbon, Cirilo teria passado cinco anos de sua juventude nos mosteiros da Nítria até Teófilo chamá-lo à cidade.[8] Uma carta de Isidoro em que ele reclama do excesso de "interesses mundanos" de Cirilo, contrários ao ideal da busca da solidão, também é utilizada para sustentar essa tese. Entretanto, não é certo que Cirilo tenha passado pela vida monástica. O fato de nunca mencionar este suposto fato ao escrever para monges egípcios, já como arcebispo em Alexandria, é considerado surpreendente (um argumentum e silentio). Severo de Antioquia tinha dúvidas sobre essa tradição enquanto ibne Almocafa a defende, mas cita Serapião, o Sábio, como mentor de Cirilo ao invés de Isidoro, mas é considerado uma fonte pouco confiável. McGuckin cogita que, afinal, Cirilo tenha passado algum tempo em mosteiros como parte de sua educação para a vida eclesiástica, dada a importância dessas instituições para o cristianismo egípcio à época.[10]
Início da carreira eclesiástica e Sínodo do Carvalho
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Em 403, com aproximadamente vinte e cinco anos, Cirilo terminou seus estudos e foi ordenado leitor da igreja alexandrina ao lado de seu tio patriarca. A partir daí, ascendeu a cargos eclesiásticos mais altos, mas provavelmente já estava ligado às esferas superiores da Igreja de Alexandria desde o começo da carreira. McGuckin lembra que, à época do Concílio de Éfeso, Nestório havia ocupado o trono em Constantinopla por apenas um ano enquanto Cirilo já teria vinte e cinco anos de contato e experiência com a política da Igreja no nível mais alto, o que pode ter sido decisivo para o resultado do concílio.[11]
No mesmo ano, Cirilo acompanhou Teófilo ao Sínodo do Carvalho, realizado em Calcedônia,[12] e que resultou na deposição de São João Crisóstomo do Patriarcado de Constantinopla.[7] Teófilo teve um papel central na deposição, um posicionamento que causou atrito com Roma, que exigia a reabilitação de João, e abalou as relações entre as duas sés até os primeiros anos do patriarcado de Cirilo.[11]
Durante o patriarcado do tio, Cirilo apoiou a deposição de João Crisóstomo e, no início de seu patriarcado, rejeitou a restauração do nome de Crisóstomo nas comemorações em Constantinopla e Antioquia. Entretanto, desde por volta de 417, o patriarca alexandrino começou uma longa e diplomática reabilitação de João, abandonando aos poucos a posição de Teófilo e adotando a sua própria, reduzindo o desconforto da Cúria Romana. Crisóstomo foi posteriormente muito citado nos sermões de Cirilo, que o considerava um exemplo de ortodoxia. Não se sabe, porém, se esta reabilitação levou à restauração do nome de João aos dípticos da igreja alexandrina. Tampouco conhecemos com certeza com que intensidade Cirilo respeitava João: enquanto João de Niciu afirma que o patriarca o considerava um "professor" e restaurou sua honra com "grande alegria", Nestório afirma que Cirilo venerava as relíquias de João Crisóstomo relutantemente. McGuckin cogita que a resposta está entre esses extremos.[13]
Início do Patriarcado de Alexandria
Teófilo faleceu em 15 de outubro de 412. O patriarcado foi disputado, então, entre Cirilo e o arcediago Timóteo, que era, segundo McGuckin, o favorito de Constantinopla.[14] Da disputa, evoluiu um tumulto, resultado do conflito entre os defensores de cada um dos candidatos.[7] Embora Timóteo tivesse o apoio de Abundâncio, o comandante das tropas romanas no Egito, Cirilo venceu: foi feito patriarca em 18 de outubro, três dias depois da morte de Teófilo,[15] com o apoio do povo.[8]
À época, o patriarcado de Alexandria já era poderoso, uma ascensão que remontava à época de Atanásio e devia muito ao controle que tinha sobre as hordas de monges armados chamados parabolanos. O patriarca conseguia impor-se ante a corte imperial e seu poder rivalizava até com o do prefeito da cidade.[16] Assim, o novo patriarca passou a exercer mais funções que seu antecessor, assumindo a administração de questões seculares e outras que estavam sob a autoridade do prefeito civil.[15] Segundo Gibbon, liderados por Cirilo, os parabolanos controlavam os programas de caridade e os prefeitos egípcios temiam sua influência.[2] À época, Alexandria, habitada por judeus, pagãos e cristãos, era conhecida pela instabilidade e, segundo Sócrates de Constantinopla, nenhuma outra cidade era mais propensa a tumultos, sempre violentos.[17] [18]
Expulsão dos Novacianos
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Cirilo fechou as comunidades dos novacianos e tomou seus objetos sacros.[1][7] Os novacianos eram a seita dos seguidores do antipapa Novaciano que separaram-se da Igreja basicamente porque acreditavam que os cristãos que apostataram durante a perseguição de Décio (os lapsi) não podiam ser perdoados e nem readmitidos. Entretanto, suas práticas condiziam com a dos cristãos em quase todos os demais aspectos,[19] e Gibbon os descreve como "os mais inocentes e inofensivos dos sectários".[2] Segundo Sócrates, o bispo novaciano Teopempto teve também suas posses confiscadas.[15]
Conflito com Orestes e a comunidade judaica
A comunidade judaica de Alexandria era grande - Gibbon cita 40 000 pessoas[2] na época de Cirilo - e tradicional. Presentes na cidade desde sua fundação sete séculos antes, eram bem sucedidos e protegidos pela lei secular.
![Duas faces de moeda com a efígies de Teodósio II](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e8/THEODOSIUS_II_-_RIC_X_366_-_151623.jpg/250px-THEODOSIUS_II_-_RIC_X_366_-_151623.jpg)
![Duas faces de moeda, uma delas com a efígie de Élia Pulquéria](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3f/Aelia_Pulcheria.jpg/250px-Aelia_Pulcheria.jpg)
Sócrates Escolástico conta que, durante uma deliberação sobre alguma festividade dos judeus, eles acusaram um monge Hierax, um exaltado seguidor de Cirilo, de incitar tumulto entre os presentes.[15] Orestes, o prefeito, que invejava o poder dos bispos, aproveitou para prendê-lo, torturá-lo e assassiná-lo em público. Cirilo se encontrou com os principais líderes judeus e os ameaçou. Eles, por sua vez, organizaram um ataque aos cristãos: saíram em uma noite pelas ruas anunciando um suposto incêndio em uma igreja. À medida que os cristãos saíam para salvar o edifício, os judeus os assassinavam.[18] Contudo, Gibbon cogita que a morte dos cristãos possa ter sido acidental,[2] mas, seja como for, sabe-se que cristãos foram mortos por judeus.[7][17]
Cirilo respondeu aos ataques indo às sinagogas acompanhado por uma multidão e prendendo os judeus à força. Pegos de surpresa, não puderam se defender e acabaram expulsos da cidade.[7][17] As sinagogas foram demolidas e os bens dos judeus, saqueados. Vários historiadores afirmam que praticamente todos foram expulsos da cidade, enquanto que outros consideram a afirmação exagerada.[1][2][5][18]
Orestes não gostou do resultado, pois a perdeu de uma grande parte da população sob seu comando e, além disso, os judeus eram protegidos pelas leis.[2] Ele comunicou o ocorrido ao imperador Teodósio, mas Élia Pulquéria, a imperatriz-regente, era profundamente cristã e implantou uma comissão de inquérito para avaliar a situação.[20] Cirilo escreveu-lhe também, afirmando que a expulsão dos judeus fora um ato para proteger os cristãos.
Em 416, Edésio, o investigador enviado por Constantinopla, concluiu que os parabolanos eram uma ameaça à segurança pública. Como consequência, limitou-se o número deles a quinhentos; além disto, o grupo passaria a estar subordinado ao prefeito e não mais ao patriarca. A nova legislação ainda admoestava o bispo a manter-se distante da política: "apraz Nossa Clemência [o imperador] que os clérigos não devam ter nada em comum com questões públicas ou temas pertinentes ao senado municipal."[21] Entretanto, dois anos depois, haveria uma notável restauração do poder de Cirilo: o número de parabolanos subiu para 600 e eles foram novamente colocados sob direção do patriarca.[22][20]
Ataque a Orestes
Apesar disso, as reclamações do prefeito, afirma Gibbon, descontentaram alguns monges nitrianos. Quando a carruagem de Orestes passava pelas ruas da cidade, cerca de quinhentos deles atacaram-na, acusando o prefeito de paganismo. A maioria dos guardas do prefeito fugiu e, apesar de Orestes afirmar que era cristão batizado, acabou ferido por uma pedrada na cabeça.[2][7] [23]
A população alexandrina dispersou os monges e Amônio, o monge que lançara a pedra, foi capturado. Como punição, foi torturado publicamente até à morte. Cirilo tomou o corpo do torturado, levou-o a uma igreja e mandou listá-lo entre os mártires, intitulando-o Thaumasius.[2][7] [nt 2] Segundo Sócrates, este ato foi malvisto, mesmo entre os cristãos: Amônio teria morrido não por não renunciar a fé, mas sim por um crime comum. Ele afirma ainda que Cirilo estava consciente disso e deixou o episódio cair no esquecimento.[23]
Assassinato de Hipácia
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Na época, morava em Alexandria a filósofa chamada Hipácia. Pagã e neoplatonista, era considerada muito sábia e virtuosa, mesmo pelos cristãos. Entretanto, corriam boatos de que ela prevenia Orestes, seu amigo, contra Cirilo.[24] Assim, na quaresma de 415 (ou 416),[25] uma multidão, incitada por um leitor chamado Pedro, tomou-a de sua carruagem, arrastou-a até uma igreja e a assassinou, desmembrando-a e queimando seu corpo.[12] Gibbon afirma que os seus assassinos foram salvos através do pagamento de um suborno.[2]
A relação de Cirilo com o ocorrido é controversa. Sócrates e Gibbon afirmam que sua morte trouxe opróbrio para a Igreja de Alexandria e seu patriarca, mas não mencionam envolvimento de Cirilo.[2] Damáscio, por sua vez, atribui explicitamente o assassinato ao patriarca, que teria inveja de Hipácia;[26] a Enciclopédia Católica, porém, lembra que Damáscio escreveu muito depois do fato e afirma que ele repudiava os cristãos.[7] Vários autores tendem a atribuir culpa ou responsabilidade indireta ao patriarca: ele teria incitado as multidões com seus discursos, mesmo não dando ordens explícitas. Segundo Mangasarian, Cirilo não gostava da popularidade de Hipácia. "Acreditava que ela estava competindo com o cristianismo, levando para longe de Cristo homenagens que pertenciam a ele (...) Ela estaria roubando de Deus os seus direitos e devia cair. Tal foi o raciocínio de Cirilo, que a Igreja canonizou."[12][27] [nt 3] Outros afirmam, porém, que as multidões agiram por iniciativa própria e que Cirilo não tinha controle da situação. De qualquer forma, o episódio ficou associado a Cirilo.[28]
Também há algumas dúvidas sobre as motivações. McGuckin cogita que o crime teria sido resultado de uma tentativa de conversão forçada. Algumas pesquisas modernas creem que o episódio resultou do conflito de duas facções cristãs: uma mais moderada, ao lado de Orestes, e outra mais rígida, seguidora de Cirilo.[29]
Depois do conflito, diz Sócrates, Cirilo tentou reconciliar-se com Orestes, escrevendo-lhe e enviando mensageiros, sem sucesso.[18]
Polêmica com Nestório e Concílio de Éfeso
Entre 427 e 428, Nestório, um monge nativo de Germanícia que vivia em Antioquia, foi nomeado patriarca de Constantinopla. Seguindo a tradição da escola teológica síria, Nestório se opunha ao uso do termo Teótoco (em grego, "mãe de Deus") para se referir à Virgem Maria.[2] Cirilo, porém, defendia e incentivava o uso do termo como consequência natural da natureza única de Cristo defendida pela tradição alexandrina; assim, em 429, ele escreveu uma carta pascal apoiando o uso do título. Os patriarcas trocaram correspondências em um tom relativamente moderado até que Nestório enviou seus sermões ao Papa Celestino I pedindo sua opinião, mas não obteve resposta. Posteriormente, Cirilo também escreveu ao papa solicitando que ele referendasse a sua opinião em decreto.[7]
O papa decidiu a favor de Cirilo e delegou ao patriarca alexandrino a autoridade para depor Nestório e impor um prazo de dez dias para que ele demonstrasse arrependimento e realizasse sua penitência. Cirilo escreveu a Nestório em tom pouco conciliatório repassando-lhe estas exigências. Além disso, ele acrescentou à carta doze anátemas que o patriarca bizantino deveria confirmar. Estes anátemas, acrescentados por conta própria por Cirilo, seriam a fonte de grande polêmica nos anos seguintes.[2]
O imperador Teodósio II e as igrejas do oriente resistiram ao veredito papal e o imperador convocou um concílio ecumênico em 431, a ser realizado em Éfeso. Nestório chegou à cidade logo após a Páscoa enquanto Cirilo, acompanhado de uma grande comitiva, chegou por volta do Pentecostes. Já aliado a Mênon, o bispo de Éfeso, Cirilo fechou as portas de todas as igrejas da cidade a Nestório e colocou a população da cidade contra ele.[2]
Enquanto isso, João de Antioquia e os enviados do papa, que determinariam se Nestório poderia ou não participar no Concílio, se atrasaram. Cirilo temia que João estaria do lado de Nestório e que estivesse tentando ganhar tempo para seu adversário. Assim, no dia 22 de junho, antes da chegada dos emissários papais e dos bispos do oriente, Cirilo abriu os trabalhos do concílio na posição de presidente e representante papal (embora não tivesse sido comissionado para tal), a despeito do pedido de sessenta e oito bispos e de Candidiano, o representante imperial, para que aguardasse. Esses bispos e o representante do imperador acabaram excluídos do concílio.[2] Cirilo também mandou quatro bispos para convocar Nestório, mas o patriarca de Constantinopla não os recebeu.[7]
Sem a participação dos sessenta e oito bispos, expulsos, dos bispos do oriente que ainda não haviam chegado, de Nestório e de Candidiano, o concílio foi unânime: as cartas de Cirilo foram declaradas compatíveis com o Primeiro Concílio de Niceia e com a doutrina dos Pais da Igreja. Houve uma condenação unânime, sem discussão e uniforme até mesmo no estilo, a Nestório, que deveria ser deposto e excomungado. Entretanto, em 26 ou 27 de junho, João e sua comitiva de bispos chegaram a Éfeso. Depois de se reunirem com Candidiano, ele e os demais bispos do oriente declararam outro concílio, que condenaria Cirilo e Mênon por apolinarianismo e anomoeanismo através de outros doze anátemas.[7] Em resposta, Cirilo e Mênon depuseram também João de Antioquia.[2]
Enquanto isso, o caos irrompeu em Éfeso. Mênon fechou as igrejas aos bispos orientais e colocou guardas na catedral da cidade, que Candidiano tentou tomar com o apoio das tropas imperiais, sem sucesso. O conflito entre os partidários de Cirilo e de Nestório chegou às raias da violência física. Teodósio, que buscava o acordo entre as partes, por argumentação ou por intimidação, concedeu amplos poderes a seus representantes efésios e chegou a promover um concílio alternativo, nos arredores da cidade, com alguns representantes de cada facção. Entretanto, os orientais não cediam aos argumentos e os ocidentais, em maior número e com apoio papal, rejeitavam a reconciliação.[2] Após três tumultuados meses, Teodósio dissolve o concílio e ameaçou destituir Cirilo, João e Mênon. Depois de algum tempo sob custódia, Cirilo e João retornam a suas dioceses e o imperador finalmente adotou a posição de Cirilo: Nestório foi deposto e exilado, primeiro em Antioquia, depois em Petra e posteriormente no Grande Oásis do Egito.[7]
Em 432, morreu o papa Celestino I e seu sucessor, Sisto III, corroborou o resultado do concílio presidido por Cirilo. Depois de alguma resistência, ele convenceu João de Antioquia a se reconciliar com o patriarca alexandrino. Após o concílio, Cirilo escreveu ainda vários tratados, cartas e sermões. Foi patriarca alexandrino por trinta e dois anos e reinou até a sua morte em 9 ou 27 de junho 444.[7]
Obra
Cirilo foi um arcebispo erudito e um escritor prolífico. Nos primeiros anos da sua vida ativa na Igreja, escreveu exegeses diversas, entre elas um "Comentários sobre o Antigo Testamento",[30] um "Thesaurus", um "Discurso contra Arianos", um "Comentário sobre o Evangelho de João"[31] e os "Diálogos sobre a Trindade". Embora seja hoje lembrado pelo seu papel no Concílio de Éfeso e pelos eventos tumultuosos de seu patriarcado, é lícito crer que Cirilo imaginava que seus comentários bíblicos seriam seu legado mais relevante.[32] Em 429 as controvérsias cristológicas aumentaram sua produção literária a ponto de seus adversários não conseguirem acompanhar. Seus escritos fazem frequentemente alusão às doutrinas dos demais Padres da Igreja.
Por sua luta em defesa do título de Teótoco[33] (Mãe de Deus), durante o Concílio de Éfeso (431), a Liturgia da Palavra, a leitura recomendada pela Igreja Católica para a comemoração de Cirilo é exatamente uma defesa do título.
Abundam no estilo da prosa de Cirilo as construções incomuns e peculiaridades dos textos produzidos em Alexandria. Sua preferência por formas arcaicas áticas é notável, assim como as frases longas e intrincadas, com várias orações subordinadas e construções complicadas.[34] Por isso, até seu estilo literário é controverso. Por vezes descrito como uma variedade poética de prosa,[35] este estilo é considerado por muitos complexo, verboso e desagradável para o leitor moderno. Robert Wilken afirma que ele é "prolixo e túrgido, uma infeliz sinergia de grandiloquência e afetação";[34] L. R. Wickham diz que há, nos textos de Cirilo, "toda a feiura erudita do Albert Memorial ou dos móveis do Segundo Império."[36] O próprio Nestório classificou o texto de Cirilo como pomposo e difícil de ler. McGuckin, porém, tende a ser mais benévolo — enquanto reconhece que a prosa do patriarca é densa e difícil, sugere que esta dificuldade não deriva somente do estilo, mas também das sutilezas dos argumentos.[32]
Para Cirilo, tal afetação provavelmente apresentava-se como sinal de erudição e prestígio; de fato, após o cristianismo tornar-se a religião oficial do Império Romano, seus autores passaram a adotar menos o idioma vernáculo (como o koiné era, no Novo Testamento), adotando cada vez mais formas antigas, especialmente áticas.[34] O resultado foi uma prosa por vezes distanciada dos significados que queria transmitir e um tanto artificial.[36]
Comemorações
A Igreja Ortodoxa e as igrejas orientais celebram seu dia em 9 de junho e novamente, junto com o Atanásio de Alexandria, em 18 de janeiro. A Igreja Católica não o comemora no calendário tridentino; sua celebração foi adicionada apenas em 1882, sendo 9 de fevereiro o seu dia. Aqueles que usam calendários anteriores à revisão de 1969 ainda observam este dia, mas a revisão atribuiu ao santo o dia 27 de junho, tradicionalmente o dia de sua morte.[37] A mesma data foi escolhida para o calendário luterano. Em 9 de abril de 1944, por ocasião do 15º centenário da morte de São Cirilo, o Papa Pio XII promulgou a encíclica Igreja Oriental (Orientalis Ecclesiae).[38]
Ver também
- Ágora (Brasil: Alexandria / Portugal: Ágora) — filme sobre a morte de Hipácia e a destruição do Serapeu de Alexandria.
Cirilo de Alexandria (412 - 444)
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Notas
- ↑ Segundo a Enciclopédia Católica, irmão de seu pai;[7] de acordo com John McGuckin, irmão mais velho de sua mãe.
- ↑ A nota 943 no Ecclesiastical Histories encontrado online (página 293) esclarece que "Thaumasius" significa "admirável" ou "maravilhoso" em grego clássico.
- ↑ Ver nota 947 no Ecclesiastical Histories encontrado online (página 294).
Referências
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- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q Edward Gibbon. «History of Decline and Fall of the Roman Empire» (em inglês). Consultado em 1 de outubro de 2012
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- ↑ McGuckin 2004, p. 6.
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- ↑ «Livro XVI, 16.2.42». Codex Theodosianus. Consultado em 1 de outubro de 2012
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- ↑ a b McGuckin 2004, p. 4.
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- ↑ A History of Classical Scholarship. 1, from the Sixth Century B.c. to the End of the Middle Ages 3 ed. [S.l.]: CUP Archive. p. 399
- ↑ a b Russell 2002, p. 205.
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Bibliografia
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- Russell, Bertrand (2004). History of Western Philosophy (em inglês). Londres: Routledge. ISBN 0-415-32505-6
- Dzielska, Maria (1995). Hypatia of Alexandria. Revealing Antiquity (em inglês). Londres: Harvard University Press. ISBN 0-674-43775-6
- Russell, Norman (2002). Cyril of Alexandria. The Early Church Fathers (em inglês). [S.l.]: Routledge. ISBN 9780203451441
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- Diálogo sobre a encarnação
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