Antilegomena

Livro Sagrado
Bíblia
Cânon bíblico e livros
Pontos de vista
  • v
  • d
  • e

Antilegomena (αντιλεγομένα), são os escritos cristãos que são "disputados" ou, literalmente, as obras em que há alguém que "falou contra". Este grupo é distinto dos notha ("espúrios ou "rejeitados") e se opõe aos "Homologoumena" ("escritos aceitos", como os Evangelhos canônicos).

Os antilegomena ou escritos sob disputa foram amplamente lidos no Cristianismo primitivo e incluem obras muito conhecidas como a Epístola de Tiago, a Epístola de Judas, Segunda Epístola de Pedro, a Segunda e Terceira Epístola de João, o Apocalipse, o Evangelho dos Hebreus, os Atos de Paulo, o Pastor de Hermas, o Apocalipse de Pedro, a Epístola de Barnabé e o Didaquê.[1][2]

Terminologia

Em muitas línguas e tradições, o termo homologoumena é considerado uma alternativa viável aos termos dogmáticos protocanônico e deuterocanônico, com a única exceção sendo os livros que não estão hoje presentes em nenhum dos cânones cristãos da Bíblia. Assim, em várias tradições pelo mundo, os livros deuterocanônicos do Antigo Testamento também são conhecidos como "Antilegomena do Antigo Testamento", por exemplo.

Eusébio de Cesareia

O primeiro grande historiador eclesiástico, Eusébio de Cesareia, em sua História Eclesiástica (iii 25.3-5),[3] aplicou o termo antilegomena às obras sob disputa da igreja antiga.

Entre os escritos em disputa [των αντιλεγομένων] que são, apesar disso, reconhecidos por muitos, ainda existem as assim chamadas epístolas de Tiago e de Judas, também a segunda epístola de Pedro, e as que são chamadas de segunda e terceira epístolas de João, se pertencem ao evangelista ou a outra pessoa de mesmo nome. Entre os escritos rejeitados estão os Atos de Paulo, o chamado Pastor, o apocalipse de Pedro e além disso a ainda sobrevivente epístola de Barnabé, além do chamado "Ensinamentos dos Apóstolos" [Didaquê]; e além disso, como eu disse, o Apocalipse de João, se parece apropriado, que alguns, como eu disse, rejeitam, mas que outros colocam entre os livros aceitos. E entre estes alguns também colocaram o Evangelho dos Hebreus, com o qual os Hebreus que aceitaram Cristo são especialmente deslumbrados. E todos estes estão entre os livros disputados [των αντιλεγομένων]
 
História Eclesiástica (iii 25.3-5), Eusébio de Cesareia[3].

A Epístola aos Hebreus está também listada em um capítulo anterior (iii 3.3):

Não é de fato direito passar por cima do fato de que alguns rejeitam a epístola aos Hebreus, dizendo que ela é disputada [των αντιλεγομένων] pela igreja de Roma, sob a alegação de que ela não teria sido escrita por Paulo.
 
História Eclesiástica (iii 3.3), Eusébio de Cesareia[4].

O Codex Sinaiticus, um manuscrito do século IV d.C. e possivelmente uma das Cinquenta Bíblias de Constantino, inclui o Pastor de Hermas e a Epístola de Barnabé. A Peshitta original (cuja porção do Novo Testamento é do século V d.C.) exclui II e III João, II Pedro, Judas e o Apocalipse, ainda que algumas edições modernas (como a Peshitta de Lee de 1823) já os inclua.

Reforma

Durante a Reforma Protestante, Martinho Lutero levantou o assunto dos antilegomena entre os Padres da Igreja[5]. Como ele questionou Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse, este livros são por vezes conhecidos como "Antilegomenas de Lutero".[6]

F. C. Baur utilizou o termo em sua classificação das Epístolas paulinas, classificando Romanos, I e II Coríntios e Gálatas como homologoumena; Efésios, Filipenses, Colossenses, I e II Tessalonicenses e Filemon como antilegomena; e as Epístolas Pastorais como "notha" (escritos espúrios).[7]

No uso corrente luterano, antilegomena descreve os livros do Novo Testamento que tem uma posição dúbia no cânon. Atualmente são as epístolas de Tiago e Judas, II Pedro, II e III João, o Apocalipse de João e a Epístola aos Hebreus.[8]

Bíblia Hebraica

Ver artigo principal: Tanakh

O termo também se aplica a alguns livros da Bíblia hebraica[9]. Há registros na Mishná de controvérsias em alguns círculos judeus durante o século II d.C. sobre o status de livros como o Cântico dos Cânticos, Eclesiastes e Ester. Algumas dúvidas foram proferidas sobre Provérbios durante este período também. A Gemara nota que o livro de Ezequiel também foi questionado em relação à sua autoridade até que as objeções foram resolvidas em 66 d.C.. Além disso, durante o século I a.C., os discípulos de Shammai contestaram a canonicidade de Eclesiastes por conta de seu pessimismo, enquanto que a escola de Hillel a defendeu, tão vigorosamente quanto. No concílio de Jamnia (ca. 90 d.C.) houve ainda mais disputas.

Referências

  1. Davis, Glenn (2010). The Development of the Canon of the New Testament (em inglês). [S.l.: s.n.] 1 páginas 
  2. Kalin, Everett R. (2002). The Canon Debate (em inglês). [S.l.]: ntcanon.org. pp. 391&403 
  3. a b Eusébio de Cesareia. «25». História Eclesiástica. The Divine Scriptures that are accepted and those that are not. (em inglês). III. [S.l.: s.n.] 
  4. Eusébio de Cesareia. «3». História Eclesiástica. The Epistles of the Apostles. (em inglês). III. [S.l.: s.n.] 
  5. Lutheran Cyclopedia: Canon: "6: Durante toda a Idade Média não houve dúvida sobre o caráter divino de qualquer livro do Novo Testamento. Lutero novamente apontou a diferença entre homologoumena e antilegomena* (seguido por M. Chemnitz* e M. Flacius*). Os dogmáticos posteriores deixaram esta distinção novamente retroceder. Ao invés de antilegomena, eles usam o termo deuterocanônico. Racionalistas usam o termo cânon no sentido de lista. Os luternos dos Estados Unidos seguiram Lutero e defendem que a distinção entre homologoumena e antilegomena não deve ser suprimida. Mas é preciso ter cautela para não exagerar a distinção."
  6. Luther's Antilegomena at bible-researcher.com
  7. McDonald & Sanders, ed. (2002). The Canon Debate (em inglês). [S.l.: s.n.] 458 páginas 
  8. Lutheran Cyclopedia. Antilegomena (em inglês). [S.l.: s.n.] 
  9. Knox Theological Seminary Arquivado em 9 de dezembro de 2007, no Wayback Machine.: "A alegoria de Salomão foi relegada aos antilegomena por que mesmo o antropomorfismo de Deus esposando a si mesmo como povo, uma vez mais refletindo a imaginação humorística, foi considerado muito ousado e corajoso". "Canon of the Old Testament" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.: "Todos os livros do Antigo Testamento hebraico são citados no Novo, com exceção dos que foram corretamente chamados de antilegomena do Antigo Testamento, como Ester, Eclesiastes e Cânticos."

Ligações externas

  • Este artigo incorpora texto (em inglês) da Encyclopædia Britannica (11.ª edição), publicação em domínio público.
  • Este artigo foi baseado em textos de domínio público da edição de 1907 da The Nuttall Encyclopædia.
  • Christian Cyclopedia: Antilegomena (em inglês)
  • Encyclopedia Britannica: Antilegomena (em inglês)
  • The Witness of History for Scripture (Homologoumena and Antilegomena) por Franz August Otto Pieper
  • Presentation of Lutheran position: The Canon—What Is The Import Of The Distinction Between The Canonical And Deuterocanonical (Antilegomena) Books? por Gary P. Baumler
  • Luther's Antilegomena em bible-researcher.com
  • Schaff. «History of the Christian Church: The Revolution at Wittenberg. Carlstadt and the New Prophets» (em inglês). Christian Classics Ethereal Library. Consultado em 28 de janeiro de 2011 : Andreas Carlstadt "pesou a evidência histórica, discriminou entre três ordens de livro como primeira, segunda e terceira dignidade, colocando a hagiographa do Antigo Testamento e sete antilegomena do Novo Testamento na terceira ordem, e expressou dúvidas sobre a autoria mosaica do Pentateuco. Ele baseou suas objeções ao antilegomena não em critérios dogmáticos, como Lutero, mas na necessidade de testemunho histórico; sua oposição ao cânon tradicional era também tradicional; ele colocou os ante-nicenos contra os pós-nicenos. Este livro sobre o cânon, porém, era rude e prematuro e passou despercebido."
  • "Canon of the Old Testament" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.: "Mesmo uns poucos estudiosos católicos do tipo renascentista, principalmente Erasmo e Thomas Cajetan, lançaram dúvidas sobre a canonicidade dos antilegomena acima mencionados".

Bibliografia

  • The Canon Debate, McDonald & Sanders editors, 2002, chapter 23: The New Testament Canon of Eusebius by Everett R. Kalin, pages 386-404
  • v
  • d
  • e
Principais
Divisões
Bíblia hebraica (Tanakh) /
Cânone protestante
Protocânone
do Antigo Testamento
Pentateuco
Históricos
Poéticos
e sapienciais
Proféticos
Deuterocanônicos
e Apócrifos
Apenas ortodoxos
Anagignoskomena
Ortodoxos
Etíopes / Eritreus
Cristãos sírios
Novo Testamento
Trechos disputados
Novo Testamento
Subdivisões
Desenvolvimento
Manuscritos
Listas
Ver também
  • Página de categoria Categoria
  • Portal Portal da Bíblia
  • Portal Portal da Religião
  • Commons Commons